ADÃO CONTREIRAS


Nota Biográfica


Nasceu em 1944 no sítio dos Gorjões e por ai tem vivido. Por outras paragens, referenciado, quando estudante ou professor. Quando ainda miúdo lembra-se de ter apanhado um tabefe da mãe, por trocar por vezes, a ordem da letra “r” nas palavras. Estudou na Escola de Artes Decorativas António Arroio entre os anos de 1957 a 61, aí, trocou os pés pelas mãos na gramática e teve que repetir o exame de português para poder entrar nas Belas Artes.

Fervia o ano de 61, lutas de estudantes estendiam-se pelas academias, foi chamado ao Director da ESBAL, mais outros, por assinar uma reclamação pedindo: (mais barro /argila), que faltava na aula de escultura. No fim do 1º período teve que regressar a casa dos pais, minguavam os recursos!

 Divergiu da tropa guerreira de Além Mar e ficou livre por incapacidade mental, nada de dramático! Ficou preso na armadilha “ Do Boi da Paciência” e enviuvou das artes. Inerte, mas com o coração nas mãos, escreveu e pintou algumas coisas. Fez exposições.

Já empreendedor, antes de tempo, foi obreiro na abertura da lavandaria Sólimpa em Faro de cujo nome é autor. Trabalhou nela como empregado e depois patrão; fez destilações de produtos tóxicos até à uma da manhã, enquanto pelas direcções do Cine Clube de Faro e do Círculo Cultural do Algarve destilava-se o odor venenoso da “ dita – dura”, com outros amigos.

Dado o 25 de Abril, logo iniciou uma temerosa aventura – criar uma cooperativa com os trabalhadores, e assim aconteceu surgindo a Cooplava. Voltou à ESBAL.

Expôs-se, mas não tremeu. Salvaguardando alguns desequilíbrios que atirou para cima das letras – artigos de opinião e intervenção social no Jornal do Algarve de Vila Real de Santo António, nos anos de 1969 a 72; colaborações literárias: Sete Estrelo, Aullido, Sulscrito,

Publicou até à data dois opúsculos, Página Móvel Com Texto Fixo e Ouro e Vinho. Não é casado. E além disso foi ex-esperto na produção de eventos.

Nos finais dos anos 80 do século passado criou o espaço Atelier/Galeria Margem em Faro onde durante toda a década de 90 (início? do obscurantismo cavaquista), operou-se alguma resistência cultural e de cidadania; pautaram sessões abertas ao público em geral e mormente aos criadores; -n- eventos abrangendo os vários campos artísticos tiveram lugar. Foi nessa encruzilhada de acontecimentos que se forjaram os contactos com Huelva, por iniciativa de José Bivar, minha, o Zé Maria e o Juan (entretanto falecidos). Foi em busca do Bar 1900 que nós encontramos o Uberto Stabile , e foi daí que nasceu uma cooperação que deu frutos e ainda hoje (e bem) com outros protagonistas, dura.

 Há muita gente que disso se recorda!

 As Belas Artes, em Lisboa, foram um refúgio.

 

Adão Contreiras

 
***

                em,   Os  corredores habitados


                     Economia da palavra Guerra

 

     Palavra        mais     palavra       mais       palavra        Guerra

 

         //               //            //               //        economia           //

 

         //              //            //            menos          //                  //

 

         //              //       economia        //             //                  //

 

        //          menos        //              mais       palavra            //


 Economia       //        palavra           //            //                   //

 

 ***


Ao espelho pátria da saudade rosca do tempo nos braços abraços meus ainda na oxidação do sangue na penumbra das vísceras nas rosas da ficção no temporal das lembranças ao espelho percursos nos caminhos diáfana sombra de frondosa árvore no lugar encalhado do vale no seco andar do cansaço passos e passos no cruzamento da terra rasgada ao espelho confluente sensação de arminho frescura sem peso aérea e fecunda dispersão nos ruídos das pulsações ritmo sonoramente ofuscado ao espelho brilho verbal dos impadecimentos ao espelho átrio de mim verbo transido no olhar solícita paragem para infinitamente surdo acontecer ao espelho
 
***
A liberdade livre da poesia de Adão Contreiras, crítica de Fernando Martins ao livro Mostruário de Títulos para Poemas.  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

em,   Viagens no Texto – com ponto final

 

 

98ª  viagem


quando o sol ilumina as fontes
num reduto ávido de constelações
vislumbram-se possíveis horizontes
no calendário das perturbações


( nota:
esta quadra deve ser lida do ponto de vista
do nervosismo do poeta quando em viagem, assim -

 "as fontes" sítio a nort´esta das orelhas
"ávidas constelações" aura do poeta 
"possíveis horizontes" arrepios de frio
"calendário das perturbações" sintomas iniciáticos )

ponto final

 

 

 

 

 

 

 

 

91ª  viagem

vestido da voz que animava os seres
os vapores da palavra
encontraram as sapatilhas da dança,
uma cremação de beijos
atravessou o corpo do poeta

uma fome de sol esculpiu

na atmosfera um circulo
sonoro
a dança das palavras tinha encontrado
a vegetação animal
o poeta viu 
a forma do seu  cansaço e um destino visível

o movimento para a alegria mínima


no interior da manhã

o corpo curou-se da parte comercial
as margens do vendaval  em ruínas 

ponto final

 

 

88ª viagem

 a vida é
a nossa fúria
e o nosso esconderijo

habitamos nela com

uma única porta de saída
a morte

ponto final

 

 

 

 

Sem comentários:

Enviar um comentário